Código
RC139
Área Técnica
Oftalmopediatria
Instituição onde foi realizado o trabalho
- Principal: Barboza Saab Oftalmologia
- Secundaria: Centro Universitário Integrado
Autores
- CHRISTIAN GONÇALVES (Interesse Comercial: NÃO)
- Barbara Evelin Gonçalves Barboza (Interesse Comercial: NÃO)
- Maitê Andreia Straparava Raia (Interesse Comercial: NÃO)
Título
Tracoma em paciente pediátrico com diagnóstico prévio de conjuntivite alérgica: um equívoco com impacto na saúde ocular
Objetivo
Relatar um caso de tracoma em uma criança previamente tratada como conjuntivite alérgica refratária, ressaltando a importância do diagnóstico diferencial, da abordagem terapêutica precoce e das lacunas na literatura sobre o manejo da doença.
Relato do Caso
Paciente masculino, 10 anos, foi encaminhado ao nosso serviço devido a prurido ocular, secreção mucopurulenta e hiperemia conjuntival recorrente há dois anos. Durante esse período, recebeu diagnóstico de conjuntivite alérgica e foi tratado em outro serviço com corticosteroides tópicos e anti-histamínicos sem melhora significativa. Ao exame oftalmológico, apresentava hiperemia conjuntival grau 2+, secreção mucopurulenta no fundo de saco conjuntival e hipertrofia papilar acentuada, com papilas gigantes ocupando metade do tarso superior de ambos os olhos. Diante do quadro clínico foi iniciado tratamento com azitromicina oral em dose única (20 mg/kg), estendido aos contactantes domiciliares, conforme diretrizes do Ministério da Saúde. Após 48 horas, observou-se regressão da hiperemia e redução da secreção. Em três semanas, houve melhora da hipertrofia papilar, embora a lesão inflamatória persistisse parcialmente. Como havia uso prévio prolongado de corticosteroides tópicos, manteve-se monitoramento rigoroso para evitar complicações secundárias. Na revisão após oito semanas, o paciente apresentava melhora clínica significativa, sem sinais de inflamação ativa. Orientou-se acompanhamento contínuo e reforço das medidas preventivas.
Conclusão
O caso ilustra um diagnóstico equivocado de conjuntivite alérgica que retardou o reconhecimento do tracoma, uma doença negligenciada com potencial de morbidade ocular significativa. A literatura evidencia que, embora o tracoma seja classificado como uma doença erradicável, sua persistência em áreas urbanas sugere falhas nos programas de vigilância epidemiológica. Além disso, ainda há carência de estudos que avaliem a eficácia a longo prazo do tratamento antibiótico isolado em comparação com terapias adjuvantes para reduzir complicações crônicas da doença.