Código
RC019
Área Técnica
Córnea
Instituição onde foi realizado o trabalho
- Principal: Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Autores
- MARCIO ADRIANO GOMES FERREIRA FILHO (Interesse Comercial: NÃO)
- BRUNA DEPIERI MICHELS (Interesse Comercial: NÃO)
- MARIA CECILIA BARROS DUARTE SCHERER (Interesse Comercial: NÃO)
Título
CERATITE FUNGICA CAUSADA POR DIDYMELLA SPP - PRIMEIRO CASO DESCRITO NO BRASIL
Objetivo
Relatar caso de ceratite fúngica por Didymella spp, rara causa de úlcera de córnea sem registro de casos no Brasil.
Relato do Caso
Paciente, feminino, 81 anos, compareceu ao ambulatório referindo úlcera de córnea em olho esquerdo (OE) em tratamento há 14 meses em serviço externo com colírios de corticosteroide e antibiótico. Relatou herpes zoster em hemiface esquerda há 2 anos e trauma ocular leve por queda da própria altura em calçada há cerca de 16 meses. Ao exame, acuidade visual corrigida de 20/30 em olho direito (OD) e movimento de mãos em OE. Biomicroscopia (OE): hiperemia conjuntival ⅔+, edema de córnea ⅔+, lesão elevada por depósito de ciprofloxacino circundada por úlcera de dimensões 1,0x2,5mm (figura 1) e reação de câmara anterior (RCA) ⅔+. Fundoscopia: vítreo limpo e retina aplicada. Foram visualizados fungos filamentosos em coleta (figura 2). Iniciou-se Cetoconazol 400 mg/dia via oral, anfotericina B colírio 0,15% de 4/4 h, corticoide tópico de 12/12 h e tobramicina 6/6h profilática. O material foi enviado para sequenciamento do gene Internal Transcriber Spacer, sendo visualizado o fungo Didymella spp. Em todas as coletas semanais para micológico direto, o fungo se manteve. Após 45 dias, a AV do OE evoluiu para 20/160 com redução da lesão (0,8x2mm). A paciente ainda está em tratamento com melhora lenta, não sendo descartada a necessidade de transplante de córnea.
Conclusão
Os casos na literatura de ceratite por Didymella gardeniae foram ligados ao uso de lentes de contato, ao uso prolongado de corticosteroides tópicos pós ceratite herpética estromal recorrente e trauma ocular. Neste relato, a paciente apresenta diversos fatores de risco, desde infecção prévia por herpes zoster até trauma ocular e uso crônico de corticosteroide. O caso demonstra ainda a importância da coleta de material de úlceras de córnea para definição do agente etiológico e tratamento correto. Na literatura, os quadros descritos variaram de necessidade de transplante de córnea até tratamentos bem sucedidos com terapia tópica combinada de voriconazol e miconazol.